domingo, 27 de maio de 2012



DO ATLÂNTICO AO PACÍFICO SOBRE DUAS RODAS

Delmar e Sonia

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRECHO CANELA-VALPARAÍSO-CANELA

Nossa viagem teve início na linda manhã de 6 de março, em Canela (RS), depois de semanas de pesquisa sobre a melhor rota. A escolhida não foi a mais curta, mas a que oferecia boa infraestrutura de estrada, postos de abastecimento e cidades próximas, já que estávamos apenas eu e minha mulher (na garupa) - os dois parceiros que também iriam desistiram na última hora. Já que estávamos sozinhos, traçamos um roteiro que também nos permitisse visitar amigos que fizemos em outros viagens, principalmente no Uruguai. Mas as alternativas de trajetos não são muito diferentes da que fizemos. A moto usada foi uma BMW RT 1200.

Para os que ainda não foram mas pretendem ir, algumas considerações:

ESTRADAS/PNEUS - Dos quase 6 mil kms percorridos, só pegamos uns 30 kms de estrada ruim, próximo a Federal (Argentina). O restante é só estradão. Inclusive no trecho entre Villa Mercedes e Mendoza (AR) a estrada é perfeita para abrir o gás. Mas nos dias que lá passamos (tanto na ida quanto na volta), o vento lateral (ou de través, como se diz na aviação) era tão forte que tive que andar quase 300 km com a moto tão inclinada que desgastou a lateral dos pneus e tive que trocá-los na volta. É bom lembrar que a moto estava com o peso máximo e o asfalto era abrasivo, fatos que também contribuíram para o desgaste dos pneus. Os originais eram Metzeler, muito fortes, mas duros. E como tive dificuldade para encontrar os originais, troquei-os pelos Michelin Pilot 3, que me surpreenderam favoravelmente. Consigo rodar com eles com a calibragem máxima sentindo a moto muito mais firme e macia do que com os anteriores, nos quais eu usava duas libras a menos por serem muito duros.

POLÍCIA/IMIGRAÇÃO - Tudo absolutamente dentro da normalidade. Fomos parados várias vezes na Argentina e nenhuma vez no Chile ou no Uruguai. Mas como procurei andar sempre dentro dos limites de velocidade e com a documentação em ordem, não tive nenhum problema. No Chile, a estrada Viña del Mar-Santiago é uma auto-estrada com limite de 130 km, onde finalmente pude sentir a máquina no seu mais legítimo habitat e usar o controle de velocidade. Detalhe importante: a Carta Verde (seguro contra terceiros), mesmo não sendo exigida na imigração, na estrada é o primeiro documento solicitado pela polícia. Ela está sendo exigida desde o ano passado para motos (para carros já é obrigatória há alguns anos) e pode ser feita em qualquer corretora de seguros, ao custo de R$ 146 por 20 dias. Mas para entrar e sair do Chile é preciso uma boa dose de paciência com a imigração. Nada demais para quem já está maravilhado com o visual simplesmente fantástico da Cordilheira dos Andes e com a aventura da viagem.  Tínhamos a informação de que todas as bagagens eram revistadas, o que constatamos ser verdade. Mas quando chegou nossa vez, acho que o policial se surpreendeu ao se deparar com dois coroas e nos despachou sem mandar abrir os baús - só deu uma olhada superficial na mala de tanque.

COMBUSTÍVEL/POSTOS DE ABASTECIMENTO - Deu para perceber claramente que a gasolina dos três países é muito melhor do que a nossa pelo desempenho da moto - tanto ao ligá-la, quando ainda fria, quanto pela quilometragem por litro. Cheguei a fazer 22km com um litro, sendo que o usual para essa moto aqui no Braasil é algo entre 17 e 18.  Chamou a atenção a escassez de postos nas estradas. E postos bons, só nas grandes cidades. O acesso a praticamente todos os postos da Argentina e do Uruguai é bem rudimentar, sem asfalto. Mas todos onde paramos têm boas lojas de conveniência e wi-fi grátis.

HOTÉIS - Decidimos viajar sem fazer reserva em hotéis. Queríamos quartos limpos e estacionamento. Lógico que nem tudo saiu perfeito, como em Villa Mercedes (Argentina), cidade turística, mas onde chegamos já anoitecendo (o vento atrasou nossa viagem) e aceitamos a primeira opção sugerida pelo GPS. Ficamos no Hotel Parque, com fachada e jardins muitos bonitos, além de estacionamento maravilhoso. Mas o quarto e o café da manhã, melhor esquecer. Para se ter idéia, o travesseiro era único (tinha quase dois metros de comprimento) e o acionamento do ar condicionado era feito fora do quarto. O importante é que era limpo. Em média, ficamos em hotéis na faixa de US$ 100, com café da manhã. Merecem indicação positiva o Hotel Mendoza (US$ 105 a diária), em Mendoza, super-bem localizado, junto aos principais points da cidade e com estacionamento. É meio antigo, como quase tudo na cidade, mas com bom restaurante (com visual lindíssimo da cordilheira), sauna e banheiras de hidromassagem para relaxar depois de tanto tempo sentado na moto. Em Rosário (Argentina), ficamos no Holliday Inn Express, que também dá para recomendar. É novo e segue o padrão da rede, mas não serve refeições, só café da manhã e lanches. Em Viña del Mar, ficamos no Cerro Castillo. Foi o melhor custo/benefício da viagem. Quarto super-confortável, atendimento pelo próprio dono, muito simpático. Fica localizado numa rua fora do burburinho, mas distante menos de um quilômetro do cassino e de bons restaurantes. Preço: US$ 77.

PERCURSO
Ida
Canela/Alegrete (RS) - 610 kms (via Canoas, Santa Cruz do Sul, Santa Maria e Rosário do Sul)

Alegrete/Santa Fé (Argentina) - 618 kms (via Uruguaiana, Paso de los Libres, Federal e Parana)

Santa Fé/Villa Mercedes (Argentina) - 671 kms

Villa Mercedes/Mendoza - 355 kms

Mendoza/Valparaíso (Chile) - 417 kms (via Los Andes e Viña del Mar)

Volta
Viña del Mar/Mendoza - 504 kms (via Santiago)

Mendoza/Rio Quarto (Argentina) - 512 kms

Rio Quarto/Rosário (Argentina ) - 392 kms

Rosário/Colonia del Sacramento (Uruguai) - 553 kms (via Gualeguaichú e Fray Bentos)

Colonia del Sacramento/Melo (Uruguai) - 614 kms (via Montevidéu e Treinta y Tres)

Melo/Canela - 600 kms (via Jaguarão e São Lourenço do Sul)

Total - 5.846 kms

Atravessar a Cordilheira dos Andes não é nenhum "bicho de sete cabeças", como muitos apregoam. A viagem pode, inclusive, ser feita em qualquer tipo de veículo. Fazer longas viagens pelo território brasileiro é certamente mais arriscado e perigoso, em todos os sentidos. Já estamos programando viagem para Bariloche no fim do ano ou início de 2013. Estamos aceitando parceria, mas de pessoas animadas, com disposição.




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